sábado, 30 de abril de 2011

A Revolta da Chibata - O Levante do "Almirante Negro"

A abolição da Escravidão no Brasil foi 1888 pelas mãos da Princesa regente Isabel, porém a proclamação da república e a posterior elaboração da constituição de 1891 não criaram mecanismos de proteção aos Negros. A marinha do Brasil era prova viva de tal dilema,o preconceito racial era constante e os castigos corporais aplicados com freqüência.
O código da Marinha previa 25 chibatadas a todo marinheiro que cometesse faltas e falhas graves no dia a dia da instituição. Os salários eram baixos,acomodações precárias e os abusos por parte dos oficiais era mais um fator que incomodava a tropa negra.A comparação com outras Marinhas era inevitável,marinheiros no Rio de Janeiro mantinham contato com Navios que aportavam na Baia de Guanabara e a cada conversa a revolta se instalava quando os mesmos percebiam que os abusos só aconteciam no Brasil.
Em 1909 um grupo de Marinheiros Brasileiros participou de um intercâmbio com a Marinha Britânica, entre eles estava João Cândido Felisberto, futuro líder da Revolta da Chibata. No reino unido a marinha era bem treinada ,paga e não existia leis obsoletas como as que existiam na Marinha do Brasil.
No Brasil João Cândido organizou um comitê revolucionário que pretendia mudar esse panorama de abusos físicos na marinha do Brasil, o plano estava marcado para ser posto em prática 10 dias após a posse do novo Presidente Hermes da Fonseca, porém um incidente antecipou a ação dos Marujos. O marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes levou uma garrafa de cachaça a bordo,uma briga com seu delator desencadeou uma série punição ao mesmo que acabou recebendo mais de 250 chibatadas , dez vezes mais do que o permitido pelo regulamento da Marinha.
No dia 22 de novembro os revoltosos do encouraçado Minas Gerais tomam o navio e no confronto com oficiais que se negaram a abandonar a embarcação, o comandante João batista das neves acaba morto com um tiro na cabeça. Momentos depois os encouraçados São Paulo,Bahia e Deodoro também aderem ao movimento que tinha por objetivo abolir os castigos corporais da marinha do Brasil.
João Cândido Felisberto foi elevado à líder do movimento e sob seu comando o encouraçado Minas Gerais dispara tiros de canhão em pontos da Capital federal Rio de janeiro. No dia 23 de novembro o governo envia a bordo das embarcações insurgentes o deputado federal José Carlos de Carvalho com a missão de negociar com os marinheiros,de volta a terra firme ele trás consigo o manifesto com as reivindicações dos revoltosos que dentre outras coisas cobrava o fim da chibata e melhores condições de vida para os marinheiros.
No dia 25 de novembro o Congresso nacional concede uma anistia aos envolvidos na revolta em troca da rendição. No dia seguinte o presidente Hermas da Fonseca resolve cumprir a determinação do congresso e oferece a anistia nos termos propostos pelos deputados.
Os marinheiros aceitam os termos e revolvem acabar com a revolta, porém em um ato traiçoeiro o governo cede a pressões da imprensa e dos altos oficiais da marinha decretando no dia 26 de novembro a expulsão de mais de 2 mil dos marujos envolvidos com a revolta da chibata. A devassa não poupou ninguém João Candido e outros marinheiros foram presos no terrível presídio de cobras, outros 105 condenados foram levados a Amazônia para o trabalho forçado nos seringais da região.
O “Almirante Negro” após sair do presídio de Cobras foi levado ao Hospital dos alienados sob a acusação de “louco”, seu julgamento foi realizado no dia 1 de dezembro de 1912 onde ele se viu livre das acusações, porém nunca mais pode retornar a marinha. Em 2008 o governo lula indultou todos os envolvidos na revolta limpando o nome dos heróis da Revolta da chibata.

sábado, 9 de abril de 2011

O Trabalho Escravo no Brasil : Colônia e Império

Em meados de 1530 Portugal dá início a Colonização efetiva do Brasil com as chamadas Capitanias hereditárias, o regime do grande latifúndio agroexportador de Açúcar tomava forma na faixa litorânea. Os Canaviais necessitavam de ampla Mão de obra ,problema para a Metrópole que contava com uma população reduzida e não disposta a atravessar Atlântico para trabalhar na grande Lavoura.
O índio que foi utilizado na exploração predatória do Pau Brasil não foi utilizado na grande lavoura do Açúcar em parte pela proteção dos Jesuítas e também em razão dos milhões de Escravos Negros Africanos trazidos para alimentar o trabalho colonial. A opção de Portugal pelo trabalho escravo negro se explica pelo elevado lucro que a atividade gerava , no entanto não podemos deixar de mencionar que a escravidão é anterior a chegada Européia na África,tribos rivais escravizavam os prisioneiros de guerra utilizando- os nas mais variadas tarefas.
O tráfico Negreiro com vistas a abastecer a América com mão de obra deslocou em três séculos de atividade cerca de 11 milhões de cativos, desse montante cerca de 40% foram trazidos para o Brasil. Os traficantes trocavam produtos tropicais fabricados nas colônias como Fumo e Aguardente por negros que se encontravam espalhados pela costa africana em feitorias devidamente preparadas para aprisioná-los até que um Navio Tumbeiro viesse buscá-los.
A viagem durava em média 45 dias, acomodados em porões fétidos, os negros sofriam com as doenças que se alastravam com facilidade em razão do ambiente sujo e de aglomeração. No Brasil os tumbeiros aportavam em Salvador na Bahia ou no Rio de Janeiro , principais centros escravistas da Colônia, os lotes de escravos eram vendidos como “Mercadorias Humanas” , cujo preço era determinado por critérios físicos e sexo.
As famílias eram separadas de propósito, era preciso acabar com os laços afetivos que no futuro pudesse desembocar em revoltas contra o sistema escravista. Nas fazendas os escravos trabalhavam em todas as etapas de produção do açúcar , as senzalas abrigavam os “Negros de Fora”, aqueles utilizados na grande lavoura,os “Escravos de dentro” eram o de Melhor aparência física e boa dentição utilizados como empregos na Casa grande do senhor de engenho.
O trabalho na grande lavoura começava cedo e se estendia até o por do sol, alimentados com carne seca, farinha de mandioca e verduras os cativos recebiam roupas simples que se assemelhavam a sacos de batata. A rotina era de trabalho duro e não raro recheada de castigos corporais em razão de supostas faltas ou rebeldias cometidas com seus senhores.
O engenho era formado por uma ampla estrutura produtora de açúcar, os senhores de engenho para manter tudo funcionando necessitava de ampla mão de obra, não é a toa que Antonil disse “Os escravos são mãos e pés dos senhores de Engenho”. O investimento era alto , o escravo é parte do patrimônio de um senhor , portanto ele fazia tudo para não perdê-lo,os castigos foram amplamente aplicados como forma de coibir tais fugas, toda fazenda possuía capitães do mato especialistas em perseguir e recapturar negros fugitivos antes que os mesmos atingissem um quilombo.
Os quilombos eram comunidades formadas com negros que conseguiam fugir do trabalho escravos nas fazendas e cidades, formados em regiões de difícil acesso, essas comunidades desenvolviam uma vida paralela e de liberdade em meio ao sistema escravista. O reduto negro mais famoso da história do Brasil foi o quilombo do Palmares na região da serra da barriga entre os atuais estados do Pernambuco e alagoas.
A resistência escrava se deu de diversas formas, a mais comum foram às fugas e tentativas de se chegar a um quilombo, o suicídio também foi uma prática que acontecia com freqüência, ainda existiam os escravos de ganho que recebia autorização para trabalhar aos finais de semana e com o dinheiro comprar a liberdade com uma carta de alforria e ainda a capoeira que foi amplamente utilizada como forma de luta contra a escravidão. No século XVIII , no auge da economia mineradora o trabalho do escravo negro continuou amplamente explorado , as minas estavam abarrotadas de cativos que trabalhavam horas a fio na extração do ouro e diamante que alimentavam as finanças Portuguesas.
Em razão do contrabando e dos escravos que tentavam esconder o ouro e diamantes para a compra de cartas de alforria, Portugal criou punições severas e castigos ainda mais rígidos para coibir tais práticas, não raro cativos foram marcados com ferro quente e tiveram orelhas cortadas. Em 1822 D .Pedro I , proclama a independência do Brasil que nos libertou das amarras que nos prendiam a Portugal , no entanto a nossa emancipação política não vem acompanhada da libertação dos escravos.
A primeira constituição de 1824 manteve a escravidão como propriedade de direito dos grandes latifundiários brasileiros e o sistema continuou durante todo o período monárquico, a economia Brasileira mudou de rumo passando a investir no Café, produto que o valor não parava de subir no mercado mundial. Os cafezais cresciam a passos largos no Vale do Paraíba (SP) e também no Oeste Paulista , tudo alimentado a mão de obra escrava negra , porém o contexto era diferente , pois a Inglaterra não mais poderosa do mundo no século XIX virou abolicionista e passou a defender o fim do tráfico e da escravidão.
A nova postura abolicionista dos Ingleses entrava em rota de colisão com os interesses brasileiros de uma economia toda alicerçada no trabalho escravo, por pressão Britânica tivemos que aprovar a lei Eusébio de Queirós que extinguia o tráfico negreiro para o Brasil. Os fazendeiros do nordeste vendiam seus cativos para a grande lavoura do Café na região sudeste como forma de recuperar os investimentos, já que o açúcar a muito estava em decadência, não necessitando mais do trabalho Escravo de outrora.
O tráfico interno apenas amenizava a necessidade de mão de obra, em longo prazo os cafezais estariam estagnados se o governo não achasse uma solução rápida para a questão. Em meados de 1850 o governo de D. Pedro II passa a incentivar a imigração Européia como substituta nas lavouras cafeeiras que não paravam de crescer e no fundo ele próprio sabia que a escravidão estava com os dias contados com o fim do tráfico.Em 1864 o Brasil estava em guerra com o Paraguai , os negros lutaram lado a lado com o exército para garantir a soberania da nação e mesmo assim a escravidão persistia como mão de obra do império.
A participação dos Negros na composição do Exército Brasileiro e bravura no campo de batalha ajudou a despertar um forte sentimento abolicionista, que somado a fatores morais e econômicos transformava a escravidão em uma instituição que causava revolta e indignação em grande parte da população. O movimento abolicionista se organizava em Jornais que combatiam a escravidão em artigos inflamados , clubes abolicionistas levantavam fundos para compra de alforrias e muitos chegaram ao ponto de organizar fugas de escravos como os famosos Caifazes.
Pressionado por todos os lados os Políticos aprovam a primeira lei abolicionista, a lei do ventre livre (1871) libertava os filhos nascidos de mãe escrava após atingirem a maioridade, o trabalho era a maneira de indenizar os proprietários. Em 1885 é aprovada a lei dos sexagenários , escravos com mais de 60 anos ganharam a liberdade e a lei derradeira que pós fim a escravidão no Brasil foi assinada pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888.