quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O Primeiro Reinado (1822-1831)

Para consolidar a posição do Brasil como nação soberana D. Pedro I tratou de conseguir reconhecimento internacional a cerca da nossa independência, apesar da demora e dos gastos promovidos para atingir o objetivo final, podemos dizer que o monarca soube articular e defender com muita diplomacia os nossos interesses. A primeira nação a nos reconhecer como tal foram os Estados unidos da América, baseados nos princípios da Doutrina Monroe os Norte-Americanos buscavam a não interferência européia nos assuntos do continente, para tanto era necessário apoiar a emancipação das antigas colônias que assim como eles tiveram êxito ao se libertar das antigas metrópoles. A Inglaterra que mantinha vários negócios no comércio Brasileiro também tinha grande interesse no nosso reconhecimento enquanto, sob pressão britânica, Portugal acaba por se render a nossa independência em troca de uma indenização de dois milhões de libras Esterlinas e um título mesmo que simbólico de Imperador do Brasil para o Rei D. João VI. Em janeiro de 1826 após garantir uma série de interesses a Inglaterra reconhece o Brasil como nação Livre e soberana com a garantia que as taxas de 15% pagas como forma de imposto alfandegário fossem mantidas por mais 15 anos. Além de garantir tais vantagens de ordem comercial os Britânicos arrancaram de D. Pedro I a vaga promessa de um dia abolir o tráfico internacional de escravos. Simultaneamente ao trabalho de angariar o apoio internacional para o reconhecimento da nossa independência o imperador tinha que se preocupar em criar novas leis responsáveis por organizar esse novo estado nacional autônomo. Em 1823, D. Pedro I convoca uma assembléia nacional constituinte com vias de elaborar uma nova constituição para o Brasil, foram meses de trabalho tumultuado em virtude das pretensões absolutistas do monarca que não cogitava a hipótese de ter o seu poder diminuído assim como aconteceu com seu pai em Portugal após a revolução liberal do Porto. O resultado final do documento materializou todos os receios do imperador, pois no texto de influência liberal como a revolução do porto, os políticos brasileiros tentavam diminuir a esfera de ação e de poder do Monarca Brasileiro. Na madrugada do dia 12 para 13 de novembro D. Pedro I em acesso de fúria da ordem para fechar a assembléia e botar na cadeia todos os idealizadores de tal constituição, em um episódio que entrou para história com nome de “Noite da Agonia”. Ficou claro que o casamento entre o monarca e a elite agrária Brasileira estava em vias de acabar, pois no ano seguinte em 1824 o imperador impõe uma constituição elaborada por seus aliados e que dentre suas características principais concederam plenos poderes a D. Pedro I através do poder moderador e centralizou todas as esferas políticas em suas mãos. Além de centralizadora a chamada constituição da Mandioca instituía critérios censitários para a escolha dos eleitores, a única coisa que agradou a elite foi à manutenção da mão de obra escrava, mesmo em desacordo nem mesmo o monarca teria coragem para alterar a estrutura conservadora que a muito reinava nas relações econômicas e sociais no Brasil. A vida de d. Pedro I a frente do estado nacional Brasileiro não estava nada fácil, aos poucos a enorme popularidade alcançada por ele no momento da independência começava a esfriar diante de medidas autoritárias, na visão de algumas camadas do povo o sangue Português falava alto nas decisões do monarca. No nordeste Brasileiro o imperador se vê diante de um grande levante armado que tomou conta de toda região partindo da província de Pernambuco. A Chamada confederação do Equador arregimentou apoio popular em uma causa separatista e republicana, o povo nordestino não aceitava as arbitrariedades impostas pelo poder moderador instituídas pelo monarca na constituição de 1824, a miséria da região também foi forte argumento motivador da revolta. A revolta que teve origem em terras pernambucanas, reduto de liberalismo radical e que não aceitava imposições do pode central, contou com apoio das províncias da Paraíba, Ceará e Rio grande do Norte. Dentre os líderes estavam Cipriano barata, Frei caneca Padre Gonçalves Mororó e Manuel de carvalho pais de Andrade, homens influentes que abraçaram a causa nativista dessa região que a muito sonhava com autonomia. O imperador D. Pedro I não teve clemência na hora de reprimir a revolta, contando novamente com apoio logístico da Inglaterra ele ordena que seus soldados lutem até a rendição incondicional dos revoltosos, grande parte dos líderes foram executados. Um forte sentimento antilusitano foi despertado em razão da repressão empreendida por tropas legalistas, e a execução de Frei Caneca importante liderança da confederação do Equador causou forte clamor popular, as acusações de mandar assassinar brasileiros pesavam na conta do imperador que via sua antiga popularidade se esvair pelas mãos. Em meio a tantos problemas políticos e econômicos o império Brasileiro sofreu com mais uma medida intempestiva do Imperador, a cisplatina área que foi incorporada ao território na época de D. João VI no Rio de Janeiro deu inicio a um processo de independência no ano de 1825, a Argentina se envolveu na questão sonhando em anexar o território após a separação em relação ao Brasil. Qualquer líder ciente das mazelas sofridas pelo seu povo e da crise econômica reinante evitaria com todas as forças envolver sua nação em uma guerra, não foi o caso de D. Pedro I, seu ego levou o Brasil a uma guerra que não contava com apoio da população e que onerou ainda mais as finanças da nação. Para combater a Argentina que auxilia o processo de emancipação da cisplatina o monarca Brasileiro contraiu novos impostos com a Inglaterra e recrutou soldados para combater na região de fronteira de forma compulsória. O povo não apoiava a guerra por questões óbvias, o Brasil estava em crise financeira, para muitos se envolver nessa disputa era gastar dinheiro público a esmo. Outro fator que justificava a impopularidade da guerra era a questão cultural, a região da cisplatina atual Uruguai tinha características lingüísticas e físicas que diferenciavam sua população do restante dos habitantes do império, os brasileiros não entendiam o porquê de lutar e arriscar milhares de vidas para manter uma área que pretendia se libertar e possivelmente se anexar com a Argentina. As vozes do povo não foram ouvidas e d. Pedro I se manteve intransigente na luta pela manutenção da Cisplatina, depois de três longos anos de combate e com algumas vitórias insignificantes a Guerra criava problemas sérios para os cofres Brasileiros e atingia interesses Britânicos na região. Por pressão Inglesa o conflito teve fim com a independência da cisplatina que passou a se chamar República do Uruguai, depois de tanto dinheiro e vidas perdidas o Brasil perde a região e D. Pedro I vê o que sobrava de sua aprovação popular desaparecer como fumaça. Os críticos diziam que sua teimosia levou o Império Brasileiro a uma crise financeira ainda maior e a vergonha de perder uma Guerra que não precisava ter se envolvido, a vida do monarca a frente do poder não andava nada fácil. Em 1826 morre em Portugal o Rei D. João VI, a corte Portuguesa aclamou D. Pedro como Herdeiro do trono, a idéia de aceitar o poder lusitano vai despertar a ira do povo em relação ao monarca, a chamada questão sucessória do trono Português mostrou mais uma vez a inabilidade política do imperador Brasileiro. A simples hipótese de aceitar o trono Português ressuscitou o medo da colonização do Brasil, quando a imprensa o atacou por todos os lados o mesmo volta atrás da decisão e abdica ao trono em nome da filha D. Maria da Glória. A menor idade da menina a impedia de governar, nesse caso D. Pedro I indicou seu irmão D. Miguel como regente até a maioridade da menina. D. Miguel se aproveitando da ausência física do irmão se apodera do trono Português, o erro Político de D. Pedro I foi usar dinheiro dos cofres Brasileiros para disputar o Trono Português. A saúde financeira do Império era questão de preocupação generalizada em grande parte do Primeiro reinado (1822-1831) as importações do Brasil muitas vezes superavam o número de exportação, contribuindo para deixar a nossa balança comercial desfavorável. Indenizações na época da independência, a compra de Armas para reprimir as províncias descontentes com a emancipação, a contratação de mercenários estrangeiros que trabalhavam na repressão de revoltas internas, gastos na guerra da Cisplatina, vantagens comerciais para os Britânicos são os fatores que em conjunto ajudaram a afundar com a economia Brasileira durante o Reinado de D. Pedro I. O leitor deve ter percebido que o País era uma bomba relógio prestes a explodir e para grande maioria dos Brasileiros o grande culpado era fácil de apontar, o monarca que outrora era aclamado como herói por libertar a nação, agora era visto como o único responsável pelas mazelas sofridas pelo povo. Nesse clima de animosidade e impopularidade o imperador saiu em viagem oficial por várias cidades, o objetivo era melhorar a imagem abalada pelos erros e enganos administrativos a frente do Estado nacional brasileiro. Para surpresa do próprio monarca por onde passou não recebeu a hospitalidade digna de um líder nacional, foi vaiado e hostilizado na maioria dos locais em que visitou, a província de minas gerais tratou a caravana imperial com desdém e muita família tradicional se quer receberam em suas residências o imperador, desolado D. Pedro I retorna ao rio de Janeiro e a sua chegada causaria uma nova confusão, o ano era 1831 e o seu reinado estava com os dias contados. Um grupo de portugueses que residiam na cidade carioca organizou uma festa para recepcionar o Imperador, mesas foram montadas com guloseimas e vinhos portugueses, mas os Brasileiros quando descobriram o motivo da festividade se revoltaram e deram início a um conflito generalizado que aos poucos tomou várias regiões centrais do Rio de Janeiro. Era 13 de março de 1831, esse conflito entre Portugueses pró D. Pedro I e brasileiros contrários a ele entraram para a história com o nome de “Noite das garrafadas”. Depois desse conflito urbano entre facções portuguesas e brasileiras D. Pedro I percebeu que sua permanência no poder era insustentável, a solução era deixar o poder e voltar para a Europa e recuperar o trono português que havia sido usurpado por seu Irmão D. Miguel. Com a garantia de que o trono Brasileiro seria entregue a seu filho quando o mesmo tivesse idade pra isso ele abdica ao Trono em nome de Herdeiro D. Pedro II. Era 7 de abril de 1831, o monarca embarca para Portugal depois de viver no Brasil por 23 anos, a nação que no passado comemorou a independência liderada por ele, agora dava viva a sua abdicação. Em Portugal ele liderou as tropas que combatiam os chamados Miguelistas, grupo que apoiava a permanência do absolutismo liderado por D. Miguel, depois de alguns anos de luta ele recupera o trono Português em nome de sua Filha Maria da glória. A glória para D. Pedro foi momentânea, pois ele não pode desfrutar dos benefícios da vitória em virtude de sua morte precoce vítima de tuberculose no dia 24 de setembro de 1831, aos 36 anos de idade. O grande legado de D. Pedro para o Brasil foi muito além da independência que ele esteve à frente, a sua maior contribuição foi manter a unidade territorial, impedindo que o país se esfacelasse em múltiplas micro nações como ocorreu com os vizinhos da América latina. Uma vida recheada de escândalos pessoais, uma vida privada que em muito ajudava a desgastar a sua imagem, somados a um forte autoritarismo imposto por ele onde o poder moderador dava ares de absolutismo clássico ao governo Brasileiro foram os fatores que mais contribuíram para sua queda. A abdicação abriu espaço para uma nova onda de violência e crise política, no momento que D. Pedro I abre mão do trono Brasileiro seu filho tinha 5 anos de idade, sua posse naquele instante era ilegal, até a sua maioridade o Brasil seria governado por um conjunto de políticos.

sábado, 8 de janeiro de 2011

A Guerra do Paraguai (1864 - 1870)

A guerra do Paraguai foi o maior conflito armado já travado em solo latino americano, o número de soldados mortos chega à cifra de 300 mil, valor superado no continente, apenas pela guerra de secessão nos Estados unidos, onde o conflito entre o norte e o sul daquele País matou cerca de 620 mil pessoas. Como entender os motivos que levaram a tamanha carnificina é tarefa difícil, a historiografia oficial de cada nação envolvida na guerra tenta aliviar o fardo da matança generalizada buscando fatos e argumentos que possam explicar o que levou o Paraguai, O Brasil, O Uruguai e a Argentina a se envolverem em uma luta tão longa e de tamanhos prejuízos. Até a década de 1980 a historiografia de cunho marxista colocava o Paraguai na posição de vítima, os textos a cerca da guerra diziam que o modelo de autonomia financeira, a introdução de indústrias de base e o baixo índice de analfabetos incomodavam os interesses britânicos no continente. O Paraguai era visto como um perigo para os interesses do imperialismo Inglês, um exemplo que não podia se disseminar, a exaltação chegou ao exagero de colocar o modelo paraguaio como exemplo de potência latino- americana. Com certeza essa análise está bem distante da verdade o Paraguai não era esse paraíso pintado pela teoria de esquerda, tinha bons exemplos de educação e de reforma agrária que deram certo, mas longe de achar que o nosso vizinho de fronteira desfrutava de uma situação de autonomia plena. É mais fácil enquadrar a guerra do Paraguai no cenário de disputa de ordem política e econômica que a muito reinava nas fronteiras latinas, o Brasil impondo suas vontades, chegando a manipular a seu bel prazer o Uruguai e a Argentina que sonhava com a anexação das terras Paraguaias. A navegação na região da Bacia da Prata e as pretensões expansionistas do Presidente – Ditador Francisco Solano Lopez, também entra na lista dos possíveis fatores que ajudaram a criar o estado beligerante entre os países citados. O clima de guerra começou a se formar com o ato inesperado do presidente paraguaio Francisco Solano Lopez de mandar aprisionar o navio Brasileiro “Marquês de Olinda”, com autoridades importantes a bordo, inclusive o presidente da província Do mato grosso, o político Frederico carneiro de campos. As relações diplomáticas foram cortadas, o seqüestro do navio foi uma afronta que criou intensos debates no império em relação à postura a ser tomada pelo Brasil após o incidente. Não deu tempo de o Brasil pensar em declarar um estado de guerra porque o Paraguai se adiantou, sob as ordens de Lopez o exército Paraguaio invade a província do mato grosso no dia 13 de dezembro de 1864. O presidente paraguaio usou de justificativa para tal ato de agressão as constantes intervenções do estado brasileiro no Uruguai , além da tese de que a região do Mato grosso é uma área de litígio ,cabendo ao Paraguai a chance de reivindicar e disputar a posse da região.Estava iniciada a guerra , a invasão relâmpago das tropas paraguaias pegou os Brasileiros de surpresa , há muito tempo nosso vizinho se preparava para essa invasão , Solano Lopez desde que assumiu o poder no lugar de seu pai vinha preparando o Paraguai para uma possível guerra , técnicos estrangeiros trabalhavam no país produzindo armas e o seu exército era o único permanente e realmente treinado para lutar.Alguns historiadores dizem que o exército de Solano López contava com 90 mil soldados se incluirmos os da reserva , com armas novas e modernas.No dia 29 de março de 1865 ,foi à vez de a Argentina ser arrastada para a guerra com a invasão do seu território por tropas paraguaias , a província de corrientes foi o novo alvo na política expansionista do presidente paraguaio.o território Uruguaio também estava na lista de pretensões do Paraguai,a invasão de corrientes na Argentina era uma abertura de caminho para tal objetivo.A incapacidade do Brasil, da Argentina e Uruguai em deter o “ditador” paraguaio levou os mesmos a se unir contra o inimigo comum.Em maio de 1865 é criada a tríplice aliança , acordo militar que envolvia a Argentina do presidente Bartolomeu mitre , o Uruguai de Venâncio Flores e o Império do Brasil de d. Pedro II,o comando supremo das forças no início ficou a cabo do presidente Argentino.Despreparado e desorganizado o exército aliado não conseguia reunir forças para expulsar o Paraguai que no instante inicial da guerra ocupava solidamente vários territórios que pertenciam aos países tríplice aliança. A primeira grande vitória dos aliados se deu em junho de 1865 na lendária batalha naval de Riachuelo onde o Brasil destruiu parte da frota paraguaia. A guerra parecia estática, Solano Lopez foi competente ao criar um cinturão de defesa que protegia o seu país, uma linha tão sólida que até meados de 1866 a tríplice aliança parecia não um caminho capaz de levá-los a vitória final. A virada na guerra se deu com a chegada de Luís Alves de lima e silva, o Marquês de Caxias recebeu a incumbência de assumir o comando supremo das operações da tríplice aliança, a sua habilidade militar e a imensa capacidade de organização foi de fundamental importância na estruturação das tropas e na posterior vitória dos aliados. O dia 28 de julho de 1868 as tropas sob seu comando vencem a batalha de Humaitá, caia por terra a principal linha de defesa dos paraguaios. A capital assunção caiu nas mãos de Caxias no dia 1 de janeiro de 1869, com o trabalho realizado e a sensação de dever cumprido o mesmo de afasta da frente de combate entregando o comando ao genro de d. Pedro II, O conde D´eu. Restava ainda a tarefa de vencer os últimos focos de luta , e capturar o grande causador do conflito na visão dos aliados – o presidente Francisco Solano López.Não foram poucos os casos de abuso e sadismo sob a liderança do genro de d. Pedro II , o Paraguai ficou totalmente destruído e milhares de jovens e idosos não foram poupados da íra do conde D´eu.Solano López tentou se refugiar na região das cordilheiras em cerro León , mas com a derrota das suas últimas tropas na batalha de CERRO CORÁ , não tinha mais como se esconder .O presidente – ditador do Paraguai terminou seus dias de glória com uma lança que transpassou seu corpo , ela teria sido atirada pelo cabo do exército brasileiro conhecido por “Chico Diabo” , mas um tiro foi o golpe de misericórdia de sua vida atribulada.A guerra do Paraguai teve um saldo negativo para todos os envolvidos , inclusive para os vitoriosos da tríplice aliança.O Paraguai segundo a maioria das fontes teria perdido cerca de 70% de sua população economicamente ativa,sua indústria que outrora era motivo de orgulho estava ao final da guerra completamente destruída,suas perdas matérias e humanas foram tão grandes que ainda hoje elas são utilizadas no País para explicar a origem de sua pobreza.No esforço de guerra para vencer o Paraguai os países da tríplice aliança acumularam dívidas volumosas com uma série de bancos londrinos ,a dívida brasileira se sobressaia, os gastos no conflito atingiram o dobro da receita do império. Para o imperador d. Pedro II a guerra do Paraguai foi o inicio da crise que levou a sua monarquia ao fim, o exército brasileiro voltou da frente de batalha reformulado, enquanto instituição se profissionalizou e no campo das idéias aderiu ao republicanismo e a causa abolicionista.