segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A Guerra De Canudos: Fé e Luta pela terra no Interior baiano (1893-1897)

Na segunda metade do século XIX, o Nordeste Brasileiro era um reduto de Fome, Miséria, Opressão e muita religiosidade. Esse cenário se agravava em razão das secas constantes , crise financeira e o declínio da produção açucareira.
Com tantas tragédias sociais o povo simples do Nordeste se apegava a Fé como válvula de escape e conforto Espiritual, uma maneira de enfrentar as mazelas da vida. ”Pregadores” e “Profetas” se espalhavam por todo o sertão nordestino com a promessa de “Salvação” e fartura para os homens e mulheres que os seguissem.
O messianismo era um fenômeno de caráter popular, cada vez mais seguidores buscava nesses homens de fala fácil e confortante o consolo para os problemas que os afligiam. Antônio Vicente Mendes Maciel , o vulgo “Conselheiro” era um desses pregadores leigos que arrastavam multidões,nascido na província do Ceará , partiu para a vida errante de andarilho após uma série de desilusões e problemas pessoais.
Peregrinando por todo o Nordeste ele executava obras de caridade como a reforma de Igrejas e Cemitérios, no tempo livre pregava em praça pública, daí a origem do apelido “Conselheiro” e da fama que o fez arregimentar uma verdadeira multidão que o seguia por onde ele fosse. Vaqueiros,Ex – escravos,camponeses,Católicos fervorosos e pequenos agricultores compunham os homens e mulheres que abandonavam tudo para segui-lo em busca de redenção.
Não tardou a ação de autoridades Eclesiásticas e Provinciais, em pouco tempo Antônio Conselheiro virou o inimigo público número 1 de fazendeiros que perdiam cada vez mais braços do trabalho na lavoura, entre uma vida de exploração nas fazendas ou uma dedicada à busca da salvação e justiça social o povo ficou com a segunda. Cansado das perseguições e após sofrer uma acusação de assassinato Antônio Conselheiro se estabelece em uma fazenda abandonada no interior do sertão Baiano , as margens do Rio vaza barris.
Nessas terras o Conselheiro assentou seus milhares de seguidores, sertanejos despossuídos, esquecidos pelo descaso das autoridades Republicanas, uma gente simples que buscava no Arraial de Belo monte (Canudos) um pedaço de Terra para plantar e viver em paz. Em pouco tempo a população cresceu de forma vertiginosa chegando a abrigar cerca de 30 mil sertanejos , Canudos se transformou em uma das Maiores cidades da Bahia.Para viver em canudos os Habitantes se submetiam a uma rígida conduta ; Roubos, Prostituição , Adultério e o consumo de bebidas alcoólicas eram passíveis de sérias punições ou a expulsão do indivíduo da Cidade.
A vida era comunitária, tudo que era produzido ou animal criado na cidade era coletivizado e dividido entre todos os habitantes, a palavra de ordem era “Comunidade”, não existiam impostos e o cotidiano se completava com os preceitos cristãos (leigos) do líder Antônio Conselheiro. Não demorou para que as perseguições a Canudos virassem uma rotina, a cada sermão de Antônio Conselheiro contra os impostos e a República, a causa da destruição da Cidade se inflamava.
Padres e Bispos reclamavam da Perda cada vez maior de Fiéis para a Cidade de Canudos, o fato de Antônio Conselheiro não possuir nenhuma formação religiosa ou teológica enfurecia os clérigos. Os Coronéis e Políticos Baianos se preocupavam com o êxodo de sua mão de obra que abandonava o trabalho nas fazendas para pedir guarida em Canudos.
A campanha pela destruição da Cidade era incentivada por acusações descabidas, na visão de algumas autoridades Canudos não passava de um antro de Monarquistas Fanáticos, Religiosos extremistas e criminosos foragidos da justiça. As expedições legalistas enviadas para destruir a cidade chegaram na região em meados de novembro de 1896,porém o trabalho não foi tão fácil quanto esperavam,após sangrentos combates os sertanejos conseguiram vencer uma série de tropas que caiam diante a coragem dos seguidores de Conselheiro.
O efeito das derrotas no Rio de Janeiro foi catastrófico, ninguém entendia como era possível um bando de “Jagunços ignorantes” venceram um exército bem armado e preparado. A humilhação levou ao envio de 8 mil soldados divididos em várias frentes , a ordem era deixar a cidade de canudos de joelho.
Com a nova investida o Exército Brasileiro aniquilou com o reduto Sertanejo, não demonstraram piedade, os mais de cinco mil casebres caíram ou incendiaram diante o poder de fogo dos canhões que castigaram Canudos por vários dias, o desastre humano foi assustador mais de 20 mil pessoas perderam suas vidas.
No Pós guerra a região onde antes se encontrava a cidade de canudos foi inundada pelas águas do Açude de Cocorobó, escondendo para sempre as ruínas e as marcas e uma tragédia humana e social.

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